quinta-feira, 16 de julho de 2015

Felicidade Facebook e Solidão Contemporânea



Ou você está no "face" ou não está no mundo. Essa é a era da comunicação, em que deve-se estar conectado para que haja o sentimento de pertencimento ao grupo. Todos vivemos na chamada grande rede, e nela tudo parece fazer sentido, afinal, todos estão sorrindo. A rede parece garantir a felicidade, logo se você não está na rede, você não só não está no mundo, como também não é feliz. Mas, será que essa felicidade facebook é real?

Como dito, no face todos estão sorrindo (você já viu alguém triste?), tudo parece fazer sentido, é como se a vida real tivesse se tornado uma extensão, um plug-in da rede, melhor, um aplicativo que baixa-se no play store. Entretanto, se a vida deslocou-se para o face, se a felicidade está no face, o que acontece na vida real?

Esses são questionamentos para quem conseguiu manter-se na superfície. A resposta para as perguntas é simples - a felicidade facebook não é real  e apenas esconde a solidão que nos encontramos. O sucesso do facebook é determinado pela facilidade em desconectar, de modo que não há uma preocupação em criar laços, mas apenas em se manter "conectado". Sendo assim, como não crio laços, tenho a necessidade do mundo me oferecer algo novo o tempo inteiro.

Em outras palavras, passamos pela vida sem que nós e os outros tenham importância e, portanto, tentamos substituir a qualidade dos relacionamentos pela quantidade. Desse modo, precisamos postar 48 fotos por dia, como se precisássemos da aprovação do outro, quando, na verdade, vivemos apenas uma representação e diante disso, não vivemos nada.

Ou seja, como na verdade não sou feliz, preciso compartilhar tudo a fim de que pelo olhar do outro haja a aprovação de que a minha vida possui o valor necessário para se sustentar. E como todos vivem uma fantasia, todos mentem uns para os outros, como se fosse condição necessária para manter a felicidade de todos.

Pelo medo de encarar o vazio que nos tornamos, preenchemos esse vazio com ligações e wathsapp. Assim, toda barafunda do facebook é apenas para esconder aquilo que eu não quero ver, isto é, o meu vazio e como estamos cada vez mais sozinhos, muito embora, paradoxalmente viva-se na era da grande rede. Ou seja, temos a necessidade de postar e compartilhar o maior número de coisas a fim de que os likes preencham o nosso vazio existencial.

É preciso que as pessoas curtam a vida que eu não estou curtindo, digo mais, é condição necessária ter pessoas legitimando aquilo que eu gostaria que fosse, para que o teatro seja mantido. Buscando o melhor enquadramento nas fotos, escondo o vazio que sou, a solidão que atormenta e o distanciamento das relações.

Essa urgência em ter pessoas legitimando aquilo que eu gostaria que fosse, me impede de refletir sobre a própria vida, ou seja, não há uma tomada de consciência, em que o indivíduo é o dono do próprio destino, já que está sempre submetido ao espetáculo, pois este garante aplausos, mesmo que não passe de uma simulação.

Enquanto não acordarmos, estaremos mais ligados à internet, ao teatro, mais sozinhos e, portanto, desligados do real e das pessoas. É necessário ter a consciência do ser, pois não é fingindo ser, e, logo, não sendo, que há relações, tampouco, felicidade, pois essa reafirmação de um eu que não existe implica apenas a solidão que nos aflige, as ilhas emotivas que nos tornamos.

Imersos nesse espetáculo, talvez, não consigamos perceber que quanto mais desesperados por likes, mais sozinhos estamos e que, embora, a internet e o facebook sejam instrumentos poderosíssimos, os quais podem ser utilizados como ferramentas de aproximação estamos os substituindo pela vida real, e pior, por uma vida que não existe.

Esse desespero por likes só representa indivíduos cada vez mais solitários. Isso acontece pela dificuldade em estabelecer relações reais, e, por conseguinte, fortes; de encarar a si mesmo, a própria consciência e admitir que a vida não está passando de uma encenação.

A felicidade facebook representa uma sociedade doente, mas que busca esconder-se. Faz-se necessário coragem para encarar-se e viver o que realmente somos, dizer o que realmente estamos sentido, fazer da rede uma extensão da vida real e não o contrário. Sabemos o quanto isso é difícil, pois temos medo de nos encarar, mas enquanto esse medo não for superado, continuaremos alimentando o palco que a vida se transformou, pois como diz o poeta:
"Esse mundo é um saco de fingimento."

5 comentários:

  1. Pois é. Ou, no mesmo nível dessa felicidade falsa, são as pessoas que se dizem deprimidas e ficam postando o quanto estão triste e descontentes com sua vida. Claro, a pessoa pode estar passado por momentos de dificuldades, mas quem realmente é depressivo se isola, não fica postando isso no Facebook ou em outras redes sociais. Ainda tem os que pagam de cultos e tal. Quem convive com essa pessoa no dia-a-dia, ou pelo menos, na vida real, sabe que ela não é assim. Então, pra quê fingir ser outro alguém? Ah, já sei. Porque essas pessoas possuem muitos "amigos" nas redes sociais, e precisam manter uma imagem (mesmo que seja bem falsa) diante destes. O pior são os outros que incentivam isso. Eu lembro que uma vez li sobre uma menina que sofreu de anorexia, e ela disse que quando postava as fotos (que estava excessivamente magra), as pessoas elogiavam! Então, além de toda a falsidade, ainda há a falta de noção! É como um escritor italiano disse: "a internet está cheia de idiotas e o Facebook dá voz a eles",

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    1. É verdade, é cada vez maior o número de pessoas submetidas ao espetáculo, interpretando personagens a fim de receber aplausos dos seus "3.000 amigos". A rede parece-me uma relação entre enganados e enganadores que se auto-sustentam.

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    2. Minha ruminação a Nietzsche me trouxe ao teu blog...
      Gostaria de saber tua opinião sobre como alimentar a qualidade das relações interpessoais excluindo ou somando com o facebook.
      Desde já agradeço grato pela atenção.

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    3. Obrigado, falar sobre Nietzsche sempre causa isso, rs. Olha Bruno, acredito que o facebook pode ser um fator positivo nas relações interpessoais. Toda essa revolução tecnológica que aconteceu e acontece poderia ser benéfica ao aumento da qualidade das relações interpessoais, pois, sem isso nós não estaríamos nos comunicando. O grande problema é quando substituímos a vida real pela virtual. É preciso olho no olho para ter uma boa relação, é preciso perder tempo com alguém para poder conhecê-lo, para criar laços e a vida no facebook retira isso, pois a facilidade em desconectar é enorme. Entretanto, somos nós que estamos no facebook, logo, esse distanciamento e facilidade em desconectar é criado por nós mesmos. Em suma, vejo um enorme potencial nas redes sociais, mas acredito que estas não são bem usadas, e o motivo é a facilidade em nos isolarmos em nosso casulo.

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  2. super interessante. .. e muito bem posicionado. e fato estamos cada vez mais vazios. quanto mais posto mais. compartilho .mas me sinto vazio. e leandro karnal traz uma abordagem sobre isso de forma fantástica.
    o facebook e uma ferramenta poderosa e estamos usando de forma errada. e so alimentabdo nosso egocentrismo.

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