quinta-feira, 10 de março de 2016

Entre reis, peões e crise política: A pseudo-democracia brasileira



A velha indagação sobre o ser político que existe no homem parece estar quente outra vez. Nos últimos anos as manifestações e protestos têm ganhado as ruas de todo o mundo. Contudo, apesar de toda essa onda revolucionária colocar em evidência a crise do Estado representativo com vos se apresenta, deixa mais claro ainda (pelo menos para as pessoas lúcidas) a impossibilidade de mudança do panorama político.

O ser naturalmente social e político como pensava Aristóteles (zoon politikon), o qual vive e respira a pólis, e, consequentemente tem suas veias e artérias ligadas à coletividade, está cada vez mais em "démodé", ou, talvez nunca tenha existido. A sociedade nunca foi um espaço homogêneo, e, assim, o antagonismo de classes sempre foi inerente ao desenvolvimento do convívio social (mesmo não utilizando uma perspectiva marxista).

A vida pós-moderna, ou líquida, com sua face mais sombria, o capitalismo selvagem, criou um estilo de vida que esfarelou ainda mais o tecido social, criando mais discrepâncias e falta de coesão à sociedade. Diante disso, mais que nunca, o reino dos particularismos, como dizia Madison, se faz presente, de maneira que como não há tempo para cuidarmos da res (coisa) pública, tratamos de criar uma classe que seja responsável por prover com máxima efetividade o bem comum. 

Entretanto, todos os problemas inerentes à crise da soberania popular, não fez dos assuntos públicos o prato principal das discussões matinais, mas sim o capítulo da novela das oito ou quem foi eliminado do bbb. Não sejamos tolos ao acreditar que discussões somente no Facebook transformam pessoas em cidadãos ativos no cuidar da coisa pública.

Estamos tão presos no nosso universo maquiavélico que apenas queremos garantir os meios necessários à conquista dos nossos fins. De modo análogo acontece na política, já que a classe política sai do círculo social. Dessa forma, há uma verdade obscura, qual seja, de que não queremos ser representados enquanto povo. Queremos apenas que os nossos anseios particulares sejam representados e, assim, não existe povo, existe apenas eu, pois o Estado não é um ente abstrato com missão redentora. O Estado é cada indivíduo, que se faz presente nas relações sociais representando a coletividade, agindo de forma proba e buscando o bem comum.

Não adianta, portanto, ter dedos acusadores, cobrando do outro, como se fosse alheio a tudo o que acontece. Você, eu e todos somos o povo, somos o Estado e a responsabilidade por uma sociedade doente cabe a todos, porque todos nós, em maior ou menor escala, contribuímos para isso. Todavia, até que ponto estamos dispostos a sair das nossas bolhas e criar uma intersecção com o outro? Será que estamos dispostos a aplicar a lei para os nossos amigos? Ou será que para os nossos "chegados" tudo é permitido meu camarada?

Sinceramente, não sei se nós queremos de fato uma sociedade melhor, mais justa e igualitária, afinal, já perceberam o nosso comportamento em uma fila ou no trânsito quando temos que ser iguais aos outros? Enquanto permanecermos querendo ser reis, continuaremos enxergando os outros como peões e, por conseguinte, a soberania popular será somente mais uma falácia, entre tantas que nos contam desde aquele 14 de julho de 1789, como a que o Estado,  como disse Nietzsche, insiste em contar, de que - "Eu, o Estado, sou o Povo".

3 comentários:

  1. Também lembrando Nietshe, ao olharmos para o abismo onde se encontram os amigos e camaradas acima da lei...esse abismo também nos olha....e entorpecidos por ele seguimos nos sentindo os reis do trânsito e de todas as mundanas sensações que nos escravizam a esse modelo vital...

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  2. Também lembrando Nietshe, ao olharmos para o abismo onde se encontram os amigos e camaradas acima da lei...esse abismo também nos olha....e entorpecidos por ele seguimos nos sentindo os reis do trânsito e de todas as mundanas sensações que nos escravizam a esse modelo vital...

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